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Não se pode negar que a saúde do coração é vital. Mas como garantir que tudo está bem se não houver sintomas alarmantes? A resposta é simples: um check-up regular.
Vamos nos basear em uma situação real que ocorreu em outubro de 2019. Um homem de 40 anos, profissional autônomo, casado e pai de um adolescente de 13 anos, decidiu fazer um check-up rotineiro, sem apresentar queixas significativas.
Ele não possuía histórico de cirurgias ou alergias, tampouco uma herança familiar de problemas cardíacos. Em suma, ele era um sujeito aparentemente saudável, mas que, mesmo assim, reconhecia a importância de um check-up cardiovascular.
Durante a consulta, ele mencionou ter sentido desconforto torácico em duas ocasiões, mas nada que o preocupasse. Um exemplo desse desconforto ocorreu em um passeio em uma montanha-russa, onde sentiu um leve mal-estar e palidez. Essa queixa, apesar de parecer inofensiva, não deve ser ignorada.
“Nem todo desconforto é sinônimo de infarto, mas todo desconforto merece atenção”.
Além disso, foi descoberto que ele é um fumante há mais de 27 anos, fumando um maço por dia. Esse hábito pode aumentar drasticamente o risco de doenças cardiovasculares.
Quanto à atividade física, ele se exercitava de forma moderada, pedala uma vez por semana. Contudo, com a aquisição de uma moto, admitiu ter reduzido essa frequência, tornando-se mais sedentário. Como todos sabemos, a prática regular de exercícios físicos é crucial para a saúde do coração.
A grande surpresa veio com os resultados dos exames: LDL alto e HDL baixo. Ou seja, mesmo sem sintomas visíveis, já havia um risco cardiovascular que precisava ser gerenciado.
Então, o que podemos aprender com essa história? Primeiramente, a necessidade de realizar um check-up regular, mesmo sem sintomas ou histórico familiar. Em segundo lugar, a importância de manter um estilo de vida saudável, com uma dieta balanceada e prática regular de exercícios físicos.
Resumo do Quadro Clínico Inicial:
Paciente de 40 anos, que buscava realizar um check-up de rotina, apresentou queixa vaga e inespecífica de desconforto torácico e mal-estar durante situação de emoção intensa. Ele é tabagista e se tornou praticamente sedentário após a compra recente de uma moto, além de apresentar uma alimentação inadequada. Como resultado dos exames, foram observados níveis de HDL abaixo do ideal e LDL elevado.
Investigação:
Considerando-se a idade do paciente, os sintomas relatados, a intenção de retomar atividades físicas de forma mais intensa e a presença de fatores de risco – como tabagismo, sedentarismo e alterações no colesterol – foi decidido realizar um Teste Ergométrico.
Resultado do Teste Ergométrico:
O teste foi realizado sob o protocolo de Rampa, com um tempo de esforço de 6.03 minutos e uma frequência cardíaca máxima de 165 bpm. A aptidão cardiorrespiratória do paciente foi considerada regular. A pressão arterial, que antes do esforço estava em 130×80, subiu para 170×80 no pico do esforço.
As conclusões do teste não indicaram alterações sugestivas de isquemia miocárdica, considerando critérios clínicos, eletrocardiográficos e hemodinâmicos. Entretanto, foram observadas extrassístoles ventriculares frequentes (07 por minuto) no pico do esforço – algumas isoladas e outras pareadas – além de uma extrassístole ventricular isolada durante a recuperação.
Próximos Passos:
Estudos indicam que a presença frequente ou complexa de extrassístoles ventriculares pode estar associada a um aumento de 50% na mortalidade a longo prazo. Diante desse resultado e dos fatores de risco cardiovascular já mencionados (sexo masculino, tabagismo, HDL baixo, LDL alto, sedentarismo), além do histórico de desconforto torácico inespecífico, decidi solicitar uma Angiotomografia de Coronárias, exame este que permite uma avaliação anatômica mais detalhada das artérias do coração.
É importante destacar que a solicitação deste exame não é frequente, dada a necessidade de preparação prévia do paciente, seu custo elevado, a emissão de radiação e o uso de contraste. Ainda assim, acredito que, neste caso específico, os resultados do exame poderão nos fornecer informações valiosas para o manejo adequado da saúde do paciente.
Qual foi o resultado da Angiotomografia de Coronárias?
Laudo da AngioCT:
A AngioCT revelou a presença de 5 lesões (placas coronarianas) no paciente:
- A artéria coronária direita apresenta 3 placas não calcificadas, causando uma redução luminal importante nos terços proximal e médio, de aproximadamente 70%.
- A artéria circunflexa apresenta uma placa não calcificada no terço proximal, resultando em uma discreta redução luminal.
- Observa-se uma lesão moderada (50%) no ramo diagonal da artéria descendente anterior.
O escore total de cálcio é zero, e não foram detectadas anomalias coronárias. Contudo, foi identificada uma redução luminal importante na coronária direita e moderada no primeiro ramo diagonal. Há também uma ponte miocárdica no terço médio da artéria descendente anterior.
Consequências e Tratamento:
As placas encontradas no paciente são não calcificadas, também conhecidas na medicina como placas moles. Caso não sejam tratadas, estas placas apresentam risco de rompimento, o que poderia levar a um infarto agudo do miocárdio.
Dado esse cenário, foram planejadas duas condutas principais, que considero serem mais importantes para o paciente do que a realização imediata de um cateterismo cardíaco:
- Iniciar um tratamento medicamentoso otimizado: Este tratamento visa reduzir o risco de infarto do miocárdio e mortalidade.
- Controle dos fatores de risco cardiovascular: Isso inclui cessar o tabagismo, controlar o colesterol, melhorar a alimentação e, quando seguro, realizar atividade física regularmente.
Os riscos do tabagismo para a saúde cardíaca são bem conhecidos e, portanto, parar de fumar é uma medida crucial nesse processo. Além disso, manter uma alimentação balanceada e praticar exercícios físicos regularmente são ações que contribuem para a prevenção de doenças cardiovasculares.
O caminho para uma vida mais saudável e longe do risco de infarto começa hoje. Se você é fumante, considere parar. Seu coração agradece!
Parar de fumar – Artigo educativo para pacientes
Qual tratamento medicamentoso recomendado para esse caso?
Baseado na Diretriz de Doença Coronária Estável da Sociedade Brasileira de Cardiologia, os seguintes medicamentos são recomendados para reduzir o risco de infarto e mortalidade no paciente:
- Aspirina (AAS): É um antiagregante plaquetário e, a menos que existam contraindicações, é recomendado para todos os pacientes com Doença Arterial Coronariana.
- Estatinas (rosuvastatina, atorvastatina, sinvastatina, entre outros): São a melhor opção terapêutica para controle dos níveis séricos de colesterol LDL, sendo os medicamentos de escolha para reduzi-lo em adultos. Além disso, as estatinas também possuem efeito pleiotrópico de diminuição da inflamação dentro das placas, o que diminui a chance de ruptura e consequente infarto.
- Bloqueadores do sistema renina-angiotensina (ramipril, enalapril, perindopril, losartana, olmesartana, entre outros): Os inibidores da enzima de conversão da angiotensina (iECA) são altamente recomendados quando há disfunção ventricular e/ou insuficiência cardíaca e/ou diabetes mellitus. Os bloqueadores dos receptores de angiotensina são uma alternativa para pacientes que não toleram iECA.
Como o paciente apresenta isquemia miocárdica comprovada por teste ergométrico, também seria adequado introduzir uma dose baixa de betabloqueador para controlar a isquemia.
Conclusão
Por fim, e não menos importante, ficou evidente a necessidade de atentar para hábitos prejudiciais à saúde, como o tabagismo.
Os exames de rotina podem nos fornecer um panorama importante e necessário para a identificação precoce de fatores de risco e problemas que podem estar ocultos, como foi o caso do colesterol alto nesse paciente.
No mundo da saúde, podemos tomar como verdade a famosa frase “prevenir é melhor que remediar”. Sendo assim, o check-up regular surge como uma ferramenta indispensável para a prevenção.
Não espere por sintomas alarmantes para cuidar da sua saúde. Acompanhar regularmente, através de check-ups, a condição do seu coração, pode ser a chave para uma vida longa e saudável.
“A saúde do coração começa com pequenas ações, e uma delas é o check-up regular.”
Não subestime o poder de um check-up. Ele pode ser o passo decisivo para você tomar consciência da sua saúde cardiovascular, e, com isso, adotar um estilo de vida mais saudável. Lembrando que a saúde é um bem precioso e que devemos cuidar dela como tal.
Portanto, se você se identifica com essa história, ou se ainda não fez seu check-up este ano, o convite é para que o faça. Seu coração agradece!
Esperamos que essa história sirva de exemplo para que você também cuide da sua saúde. E lembre-se: seu coração é precioso, cuide bem dele!
E então, quando será o seu próximo check-up?
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Teste Ergométrico – Entendendo os parâmetros do Teste de Esteira