Caso Clínico #01 – O Soldado Ryan
Visão Geral do Conteúdo1 Como ocorreu esse evento trágico?2 Compreendendo um pouco mais dos detalhes!3 E como foi que evoluiu a situação do Soldado Ryan?4 Esse quadro poderia ter sido diagnosticado antes da ocorrência da Morte Súbita?5 Quais as principais causas de Morte Súbita em pacientes jovens durante exercício físico?6 Outras causas de Morte Súbita Cardíaca são:7 Voltando ao caso clínico, como ficou o soldado Ryan ao final de um ano?8 E o Exército Brasileiro, como lidou com os médicos?9 Considerações finais: Após 12 anos de formado com mais de 30.000 atendimentos, incluindo muitos atendimentos de urgência e emergências, algumas histórias foram marcantes na minha profissão de médico, além de fornecerem importantes lições. Vou voltar no meu primeiro ano após o término da faculdade, em 2008. Nessa época, minha vida melhorou, consegui (com sorte e muita felicidade) a única vaga de médico do Exército em Ribeirão Preto na 5ª CSM, e estava fazendo meu treinamento militar inicial em Pirassununga no 13º Regimento de Cavalaria Mecanizado. Certo dia recebo um comunicado urgente do Exército. Eu deveria retornar imediatamente a Ribeirão Preto. Motivo => Um soldado havia tido uma Parada Cardiorrespiratória (PCR) durante o treinamento físico. Sim, era isso, não tinha entendido errado: Um jovem de 18 anos, tinha tido uma Morte Súbita Revertida durante o exercício físico. Como ocorreu esse evento trágico? Rotineiramente 3 vezes por semana, nós fazíamos exercícios físicos em um Centro de Treinamento (Cava do Bosque). Após um treino de corrida, o Soldado Ryan (nome fictício), disse que precisava tomar uma água. Foi até o bebedouro, tomou um pouco de água e caiu no chão desacordado. Estava sem pulso, sem respiração, sem responder a qualquer chamado. A maior emergência que pode existir => Parada cardiorrespiratória. Sim! a Parada Cardiorrespiratória (PCR) tem como característica, diminuir em torno de 10% a chance de sobrevivência para cada minuto que passa. Pelos relatos, rapidamente o Tenente-Coronel junto com os militares iniciaram os primeiros socorros com massagem cardíaca, e acionaram o médico do local, além de chamar a ambulância. Logo o SAMU chegou, o médico Dr. Salvador Brasileiro (nome fictício) deu um primeiro choque (desfibrilação), iniciou manobras de suporte avançado de vida e colocou o jovem na ambulância para transferência ao Hospital mais próximo. Há relato de terem sidos necessários mais choques no caminho, um total de 07 choques ou desfibrilações. Foi feito também intubação oro traqueal e posteriormente, internação em UTI. No dia seguinte, eu já estava em Ribeirão Preto e fui logo falar com o Coronel. O Comandante solicitou que nós fossemos ao hospital, e para eu tomar ciência de tudo o que estava acontecendo e dar todo suporte necessário aos familiares. Na UTI, as notícias não eram boas, ainda em coma, intubado, sem diagnóstico do motivo da parada cardíaca, o rapaz de 18 anos, iria ficar um bom tempo internado na tentativa de sobreviver. Compreendendo um pouco mais dos detalhes! Nos dias seguintes, o quartel estava em alvoroço, somente se comentava sobre o assunto do Soldado Ryan, todos me perguntavam o que será que tinha acontecido, se ele iria sobreviver. Os exercícios físicos foram momentaneamente suspensos e algumas investigações começaram a serem feitas. Os familiares, logicamente estavam muito preocupados e ansiosos, mas me recordo que eles foram educados e totalmente honestos em relação ao que tinha acontecido. Explicaram que o Soldado Ryan já estava passando mal ao jogar futebol, já tinha tido sintomas como pré-sincope, tontura, durante esforço físico. Aqui vou pedir desculpas, mas como já se passaram mais de 10 anos, não recordo exatamente se o Ryan tinha tido somente sensação de desmaio (pré-sincope) ou se já havia tido uma perda de consciência antes. Essa parte que estou relatando trás importantes lições e aprendizados. Primeira Lição: Sintomas no esforço físico ou logo após esforço têm que ser investigado! Dor torácica no esforço físico ou na recuperação é um sinal de alerta. Desmaio (síncope) no esforço físico é algo que nunca pode deixar de ficar sem uma investigação adequada!! Outros sintomas como palpitações, tontura aos esforços, sensação de desmaio, também necessitam de investigação. Dito isso, surgem algumas perguntas: Se ele estava tendo sintomas porque foi aceito no exército? Ele passou por uma adequada avaliação pré-participação de atividade física? Tudo isso foi solucionado, o que nos trás novas lições. Foi avaliado o prontuário de registro da entrevista do Soldado Ryan antes de entrar para o Exército. Foi revista a avaliação do médico que fez a liberação para o soldado entrar no Exército. Confesso que eram letras feias, escritas com correria, enfim letra de médico. Porém o importante era que estava tudo registrado, escreveu que o jovem negava sintomas, descreveu o exame físico, entre outras anotações. O médico em questão, também jovem, com pouco tempo de formado, tinha escapado de ter um marco pesado em sua carreira. Mais uma vez a família, muito honestamente, relatou que o Soldado Ryan na imensa vontade de entrar para o exército, tinha omitido as informações de que estava passando mal. Os familiares disseram que para Ryan, entrar para o Exército Brasileiro era o seu sonho. O Coronel (a quem até hoje admiro pela sabedoria que tinha) ciente das informações, me disse que contava comigo para oferecer todo suporte para família, independente de qualquer coisa, pois era uma família que estava unicamente preocupada com a sobrevivência do seu menino. Lição número 02 (para médicos): Algo fundamental, mas que não custa lembrar, é da importância das anotações no prontuário! E como foi que evoluiu a situação do Soldado Ryan? Foi uma situação difícil, devido a intubação prolongada, foi necessário realizar uma traqueostomia, também foi solicitado uma transferência para o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP. Até então, o soldado seguia sem um diagnóstico médico firmado. O primeiro hospital fez muito bem o papel de manter o paciente vivo e dar condições de recuperação. Quando foi transferido para o Hospital das Clínicas, o Soldado Ryan já estava mais estável e pode iniciar uma investigação. Logo nos primeiros dias foi feito o diagnóstico: … Continue lendo Caso Clínico #01 – O Soldado Ryan
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